Eu sou um voluntarista. Ou, se você prefere o termo assustador e frequentemente mal entendido, sou um anarquista. Não acredito que o governo seja necessário ou legítimo. Em nenhuma ocasião. Direciono grande parte do meu tempo e esforço tentando — com algum sucesso, devo dizer — fazer com que outros cheguem à mesma conclusão. No entanto, quando sugiro aos outros a ideia de uma sociedade sem classe governante, isso normalmente gera uma avalanche de falsas presunções e preocupações infundadas em suas cabeças. Então deixe-me ser perfeitamente claro sobre o que estou pedindo aos estatistas (aqueles que advogam pelo “governo”), e o que não estou pedindo.
Não estou pedindo para que você renuncie a organização e civilização. Não estou pedindo para que você abrace as ideias de que “o poder faz a razão” ou da “sobrevivência do mais forte”. Não estou pedindo para que você descarte sua compaixão. Não estou pedindo que você abandone seus valores essenciais, ou que traia seu código moral. Na verdade, o que estou pedindo é o exato oposto disso tudo. Tudo que estou pedindo é que você, seja la o que já acredita ser o certo e errado, que aplique isso consistentemente a todos, a todo momento.
Eu portanto peço que você pare de imaginar que rituais políticos e documentos, ou distintivos e uniformes, conferem a certas pessoas direitos especiais que o resto de nós não temos. Eu peço que você pare de implorar para que aqueles que detêm o poder político façam coisas em seu nome que você mesmo não tem o direito de fazer por sua conta. Peço que pare de acreditar no Direito Divino dos Políticos, e em vez disso aceite que cada indivíduo é dono de si mesmo, e que ninguém pode ser um senhor de escravos justamente, bem como ninguém pode ser um escravo justamente.
Quanto a mim, eu nunca vou atacá-lo ou roubá-lo — não porque alguma legislatura promulgou uma “lei” dizendo para que não o fizesse, mas porque reconheço que seu tempo, sua energia, seu corpo e sua vida pertencem a você, não a mim. É, portanto, errado que eu viole qualquer uma dessas coisas sem seu consentimento, seja por minha conta, seja contratando algum capanga para fazê-lo por mim, seja votando ou requerendo que oficiais de algum corpo político o façam em meu nome.
Mas essa regra básica de decência se aplica em ambas as direções. Se você pedir para que o “governo” tomem forçosamente os frutos do meu trabalho contra a minha vontade para financiar qualquer coisa que você queira, ou que você pense que é importante, isso não é mais legítimo ou justo que você me roubar por conta própria. (Usar o espólio roubado para fins benevolentes não justifica o roubo retroativamente.) E se você defende a promulgação e aplicação de “leis” que tentam forçosamente controlar minhas escolhas e ações, enquanto eu não estou ameaçando ou agredindo ninguém, isso não é diferente de você mesmo tentar me dominar violentamente. (Não, você não tem o direito de intervir na vida de outras pessoas e ser um intrometido enxerido, mesmo se você achar que é “pelo seu próprio bem” ou “para o bem da sociedade”.)
A maioria de nós fomos ensinados que controlar nossos vizinhos por meios “legais” (eleições, petições, legislação, regulações, etc.) é algo perfeitamente civilizado, aceitável e até virtuoso a se fazer. Mas não é. Disfarçar o roubo e vandalismo como se fosse outra coisa, chamando de “a vontade do povo” ou “governo representativo” não os torna algo justo. Chamar os capangas de “oficiais da lei”, os ladrões de “cobradores de impostos”, e o lider da mafia de “deputado” ou “presidente”, não transforma o mal em bem. Um pilantra que fala em eufemismos e retórica desonesta, usa terno e gravata, e tem um título pomposo, ainda é um pilantra.
Em suma, tudo que estou pedindo é que, se você reconhece que seria errado fazer algo você mesmo, então não peça para que outra pessoa (incluindo aquelas no “governo”) faça por você. Isso é tudo. Seja moral. Tenha princípios. Seja consistente. Uma vez que o for, você descobrirá que também é um voluntarista. Porque essa é a única escolha moral, a única escola racional, a única escolha verdadeiramente civilizada, a única escolha consistente e sã — a única escolha que permite uma convivência humana pacífica.
Tradução: Pedro Anitelle