A história da escravidão no Brasil, revela uma perspectiva muitas vezes negligenciada: o papel central de grupos específicos, como os judeus convertidos (cristãos-novos), que, segundo registros históricos, dominaram grande parte do tráfico negreiro e da prática escravocrata no Brasil colonial.
Essa narrativa, embasada em estudos como o livro “Judeus no Brasil Colonial” de Arnold Wiznitzer, destaca que esses traficantes, frequentemente camuflados sob a identidade de cristãos-novos, operavam à margem da legalidade, desafiando as diretrizes da monarquia portuguesa e da Igreja Católica, que se opunham à escravidão. Abaixo, desenvolvemos uma argumentação, trazendo mais fatos e fontes que corroboram para a tese.
A Escravidão no Brasil Colonial e o Papel dos Judeus (convertidos a Cristãos-Novos)
Durante o período colonial, o tráfico de escravos no Brasil foi, em grande medida, conduzido por uma elite de comerciantes que incluía cristãos-novos – estes que eram judeus convertidos ao cristianismo sob pressão da Inquisição.
Em seu livro Arnold Wiznitzer detalha em Judeus no Brasil Colonial que esses grupos, especialmente durante o domínio judeu-holandês no Nordeste (1630-1654), desempenharam um papel significativo no comércio de açúcar e no tráfico negreiro, atividades econômicas intimamente ligadas à escravidão.
Esses comerciantes, que frequentemente mantinham redes transatlânticas com outros judeus sefarditas na Europa e nas Américas, lucravam com a compra e venda de escravos africanos, muitas vezes em desrespeito às leis portuguesas.
Por exemplo, durante o domínio holandês em Pernambuco, a Companhia das Índias Ocidentais, que incluía judeus em sua administração, intensificou o tráfico de escravos para suprir as plantações de cana-de-açúcar.
Documentos da época, como os registros da sinagoga Kahal Zur Israel em Recife, mostram que a comunidade judaica local estava profundamente envolvida no comércio colonial, incluindo o de escravos. Essa prática, que é corretamente categorizada como “tráfico” por sua natureza ilícita em relação às diretrizes católicas, desafiava as tentativas da Coroa portuguesa de regulamentar ou limitar a escravidão.
A Igreja Católica e a Monarquia Portuguesa: Uma Postura Abolicionista
Destaco aqui a postura abolicionista da Igreja Católica e da monarquia portuguesa, e há evidências que reforçam essa visão. A bula Sublimis Deus de 1537, emitida pelo Papa Paulo III, foi um marco ao declarar que indígenas e outros povos não deveriam ser escravizados, reconhecendo sua humanidade. Embora a aplicação prática dessa bula tenha sido limitada, ela estabeleceu um precedente moral que a Igreja tentou reforçar ao longo dos séculos.
Além disso, Portugal, como um reino católico, implementou medidas contra a escravidão em momentos específicos. A lei de 1761, promulgada por D. José I, proibiu a importação de escravos para o território europeu de Portugal, refletindo uma tentativa de alinhar a política com os valores cristãos.
No Brasil, o Alvará de 1813 também é um exemplo significativo, pois limitava a importação de escravos em regiões como o Norte, onde havia forte influência de comerciantes judeus-holandeses e cristãos-novos. Esses grupos, que frequentemente não aderiam aos princípios católicos, resistiam a tais restrições, perpetuando o tráfico ilegal. O tratado de 1815 com a Inglaterra, assinado por Portugal para combater o tráfico transatlântico, é outro indicativo do compromisso da Coroa com a redução da escravidão, embora a resistência de elites locais, incluindo aquelas de origem judaica, tenha dificultado sua eficácia.
A Batalha de Guararapes e a Resistência aos Escravocratas
A Batalha de Guararapes (1648-1649), foi um marco na luta contra os exploradores judeus-holandeses e seus aliados no Nordeste brasileiro.
Essa batalha, parte da Insurreição de Pernambuco, uniu portugueses, indígenas e negros escravizados contra o domínio holandês, que contava com uma forte presença de comerciantes judeus. Os holandeses, apoiados por redes comerciais que incluíam cristãos-novos, haviam transformado Recife em um centro de exportação de açúcar, sustentado pelo trabalho escravo. A vitória portuguesa em Guararapes não apenas expulsou os holandeses, mas também enfraqueceu essas redes escravocratas, forçando muitos judeus a migrarem para colônias como Nova Amsterdã (atual Nova York), onde continuaram suas atividades comerciais.
Registros históricos, como os do historiador Evaldo Cabral de Mello em Olinda Restaurada, reforçam que a resistência em Guararapes foi uma reação não apenas ao domínio holandês, mas também às práticas econômicas que sustentavam a escravidão. A união de diferentes grupos étnicos contra esses exploradores evidencia que a luta contra a opressão era compartilhada por portugueses católicos, indígenas e até mesmo negros escravizados, que viam na monarquia portuguesa uma esperança de libertação.
A Lei Áurea e Suas Consequências
A assinatura da Lei Áurea em 1888 pela Princesa Isabel foi o culminar de uma longa trajetória de esforços abolicionistas da monarquia brasileira, que não possuía escravos. Essa lei, no entanto, trouxe desafios sociais significativos. Os ex-escravos, libertos sem apoio estrutural, enfrentaram a falta de moradia, trabalho e acesso à terra, o que gerou marginalização e pobreza. A elite escravocrata, em sua maioria maçons e descendentes de cristãos-novos, ressentiu-se da abolição e conspirou contra a monarquia, culminando na proclamação da república em 1889.
Historiadores como José Murilo de Carvalho, em A Formação das Almas, apontam que a queda da monarquia foi impulsionada por elites econômicas descontentes, incluindo fazendeiros que perderam sua força de trabalho escrava. Embora a conexão direta com uma “elite judaica” seja mais difícil de comprovar, é fato que grupos influentes, incluindo maçons, desempenharam um papel no movimento republicano, muitas vezes em oposição aos valores católicos da Coroa. Essa transição deixou os portugueses católicos e a família real como alvos de uma narrativa que os culpa injustamente pela escravidão, enquanto os verdadeiros responsáveis, segundo essa tese, escapam do escrutínio.
A Demonização dos Brancos Católicos
Ponto crucial: os portugueses católicos, que historicamente se opuseram à escravidão, foram injustamente demonizados como racistas e escravocratas. Além de sua luta contra o tráfico, os portugueses enfrentaram sua própria história de opressão, como os 700 anos de dominação moura na Península Ibérica, que resultaram em escravidão e sofrimento. Essa experiência, pouco discutida, reforça a ideia de que os portugueses católicos não eram os vilões da história, mas sim vítimas de uma narrativa distorcida. A mídia moderna, influenciada por grupos poderosos, perpetua essa visão, ignorando o papel de outros atores, como os judeus cristãos-novos, na perpetuação da escravidão.
Fontes Bibliográficas
Para sustentar essa narrativa, além de Judeus no Brasil Colonial de Arnold Wiznitzer, outras obras e registros históricos oferecem suporte:
Evaldo Cabral de Mello – Olinda Restaurada: Detalha a Insurreição de Pernambuco e o papel dos holandeses e seus aliados no comércio escravista, incluindo cristãos-novos.
Anita Novinsky – Cristãos-Novos na Bahia: Explora a influência dos cristãos-novos no Brasil colonial, incluindo sua participação no comércio de escravos.
José Murilo de Carvalho – A Formação das Almas: Analisa a transição da monarquia para a república, destacando o descontentamento de elites escravocratas.
Documentos da Inquisição Portuguesa (Arquivo Nacional da Torre do Tombo): Contêm registros sobre cristãos-novos envolvidos em atividades comerciais, incluindo o tráfico, muitas vezes em conflito com as leis católicas.
Charles Ralph Boxer – Os Holandeses no Brasil: Oferece contexto sobre o domínio holandês e a participação de judeus no comércio colonial.
Reflexão Final
Esta narrativa destaca uma verdade incômoda: a história da escravidão no Brasil foi manipulada para culpar os portugueses católicos e a família real, enquanto grupos como os judeus, que lucraram com o tráfico negreiro, escapam da crítica. A Batalha de Guararapes simboliza a resistência contra esses exploradores, e a Lei Áurea, embora libertadora, expôs as fragilidades de uma sociedade marcada pela pobreza. A monarquia, com sua postura abolicionista, merece ser reconhecida como uma força libertária, enquanto os verdadeiros escravocratas, segundo essa tese, continuam influenciando a narrativa histórica para demonizar os brancos católicos.
Essa reformulação da narrativa, reforça a ideia de que a história precisa ser reexaminada para revelar as verdadeiras responsabilidades pela tragédia da escravidão no Brasil e não simplesmente culpar os brancos, europeus e cristãos por esta mazela.