Jesus era Judeu ou Palestino?

Na terra da Galiléia, região mais pobre da Palestina, então sob o domínio do Império Romano, nascia Jesus Cristo, há mais de dois milênios. A Palestina fazia parte da Síria Histórica, região que hoje engloba, também, os estados independentes do Líbano, Jordânia e a própria Síria. Dado isso, podemos afirmar que Jesus nasceu na periferia da periferia. A Palestina era uma província periférica do Império Romano. E a Galiléia era uma região periférica desta província, bem como a cidade de Nazaré, cidade conhecida por ser o lugar onde Jesus passou a maior parte de sua infância e juventude.

Jesus tinha o hábito e os modos simples dos galileus, que contrastavam com os hábitos e modos das principais cidades da Palestina, como Jerusalém. Até mesmo o idioma que o Jesus usava para comunicar-se era a forma popular da língua aramaica que vigorava na época. Isso causava um escândalo entre os sacerdotes judeus que usavam formas rebuscadas e eruditas do hebraico, enquanto Jesus comunicava-se de forma simples e usando linguagem popular.

Os judeus passaram a usar o aramaico porque os israelitas inclunido os da tribo de Judá (ou os judeus) foram conquistados pelo Império Babilônico e levados para a Babilônia, onde permaneceram no cativeiro por 70 anos. Muitos dos que voltaram esqueceram a língua materna, o hebraico, passando usar assim, o aramaico.

O povo da Palestina na época de vida de Jesus vivia sob dois jugos, que causavam muito sofrimento e dor às pessoas. O jugo do Império Romano que que cobrava altos impostos a uma população já em situação nada próspera, e o jugo dos sacerdotes judeus, que além de exercerem um ferrenho domínio moral, intelectual e religioso, exigiam ofertas em dinheiro do povo já assolado pela pobreza.

Neste cenário em que a exploração externa imperial e a interna sacerdotal açoitavam o lombo do sofrido povo da Palestina, surgiu Jesus. Em relação ao Império, ele preferiu não encarar de uma forma direta, mas são famosas as suas suas inteligentes citações que o faziam se livrar de seus algozes: quando perseguido por um cobrador de impostos romano, proferiu: “Dai, pois, a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.” (Mateus 22:21). Mesmo ele sabendo muito bem que todo o ouro e toda a prata na verdade pertencem a Deus e não ao estado, como afirma o versículo “Porquanto, toda prata e todo ouro a mim pertencem!” Afirma Yahweh” (Ageu 2:8), Jesus queria deixar bem claro que nada pertence a César, e tudo pertence a Deus.

Quanto aos guardiães da religião judaica (Levitas), ele foi extremamente mais severo, acusando-os de hipocrisia e podridão em mais de uma situação, e encarando-os de frente, de uma forma incisiva e firme. O episódio em que ele levantou o azorrague contra os mercadores do templo é um claro exemplo da posição de Jesus contra a religião judaica oficial predominante na época. E a sua famosa profecia sobre o templo de que “não sobrará pedra sobre pedra”, viera a concretizar décadas depois. Os seus embates com o grupo dos fariseus foram e são emblemáticos até hoje.

Jesus é o maior dissidente da religião judaica da História; portanto qualificá-lo de “judeu” contém um equívoco gritante. Na época de Jesus, havia várias correntes dentro do judaísmo, e ele representou uma dessas correntes dissidentes com suas práticas e teologia que romperam com algumas tradições judaicas. Embora Jesus tenha nascido de uma mãe judia e sido circuncidado de acordo com as tradições judaicas, suas ideias e ensinamentos divergiram da ortodoxia judaica da época. Ele atraiu seguidores e acabou liderando um grupo de pessoas que formaram a base do cristianismo, uma religião que se separou do judaísmo e se baseou nos ensinamentos e na figura de Jesus como o Messias. A negação do judaísmo e todas as suas instituições sacerdotais e religiosas rendeu-lhe a inimizade mortal dos clérigos judeus. O único adjetivo que caracteriza Jesus de uma forma justa e correta são os adjetivos relativos ao espaço que foi palco de sua revolucionária mensagem. Portanto, Jesus nasceu em Belém, cresceu em Nazaré, era Galileu e, por consequência, Palestino, mas nunca judeu!

Perseguido pelo rei Herodes desde antes de nascer, combatente da ideologia moral e religiosa do judaísmo e política do pior dos estados (romano), foi perseguido pelos líderes sacerdotais da época, como pelos fariseus, saduceus (comerciantes, banqueiros). Substituiu sua família de sangue, pela família espiritual, amou as adulteras, meretrizes, ladrões, pobres, mendigos e os excluídos. Foi perseguido pelo imperador César, formou um grupo de seguidores apóstolos na santa ceia, tinha uma práxis inconciliável com a constituição religiosa escrita por botar em prática a lei judaica, foi perseguido por homens fardados, julgado e condenado por um juiz de direito, com apelo da massa empazinada persuadida, ao mesmo tempo em que foi traído por um infiltrado. Levado a cruz por soldados do governador romano, foi torturado, humilhado e deu sua vida pela humanidade, pois acreditava na sua causa e mesmo assim por pouquíssimos foi compreendido.

Muito mais do que líder religioso no sentido estrito e ritualístico do termo, Jesus foi um dos maiores libertadores e revolucionários da História. A sua mensagem veio trazer libertação ao povo oprimido e sobrecarregado na Palestina, no mundo daquela época e de todas as épocas. Ele enfrentou audaz e nobremente os dois sistemas que aliavam-se na opressão e exploração do povo palestino: o estado do Império Romano e a Religião Judaica.

Dados estes fatos, e trazendo a História um pouco para atualidade, fazemos alguns questionamentos. Se Jesus hoje se fizer carne e osso e vier a pregar a sua mensagem, de que lado ele ficaria?

De que lado Jesus ficaria? Ficaria do lado dos sionistas bombardeando civis inocentes, e invadindo países com matança dos povos, ou ficaria do lado das massas pobres tendo que lidar com estados totalitários e com o complexo militar-industrial norte-americano?

De que lado Jesus ficaria? Do lado das instituições religiosas do status quo (muitas usam o seu nome) que vivem a pregar impostura e a explorar os mais humildes com dízimos, ofertas e tributos, bem como com falsas doutrinas de homens?

De que lado Jesus ficaria? Do lado dos sionistas judeus que ocuparam e usurparam a Palestina, massacrando e expulsando o seu povo com um colonialismo belicista fornecido pelo apoio de países globalistas como a Inglaterra e os EUA, ou do lado do povo palestino (muitos palestinos são cristãos) que há mais de sete décadas sofre as consequências catastróficas da Nakba?

Jesus foi, é e sempre será um homem do povo, aliado, libertador e líder dos oprimidos, sobrecarregados e sofredores escravos da religiosidade cega, do estado e de instituições religiosas corruptas!

Jesus foi, é e sempre será palestino!

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